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ATO II, Cena 1

  • Foto do escritor: Ana Telhado
    Ana Telhado
  • 29 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 31 de jan.

ATO II, Cena 1 é a segunda parte do trabalho Em Estado Limítrofe I.

Convidei a bailarina - intérprete, criadora e professora - Catarina Câmara, para esta II parte. Com ela fiz também a série Corpo Lúteo, em 2021.

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Em ATO II, Cena 1, a ideia era continuar a trabalhar as questões da série Em Estado Limítrofe I, ligadas a uma das condições atuais, psíquicas, em que o ser humano vive - nos limiares: ora é tudo é preto, ora tudo é branco, sem meio termo, sem as nuances de cinzento pelo meio. Ora o outro é bom e perfeito, ora o outro é mau, um vilão. Ora se vive na idealização do outro, ora se cai na desilusão e se odeia o outro.

Hoje, vive-se num mundo de fantasia 1 e imaginação 2.


Precisamente por ser o casamento, território de muitas idealizações, trouxe para estas duas séries de fotografia, o objeto vestido de noiva. Um vestido de noiva antigo, que nos remete para a ideia de casamento. O sonho do casamento, a antiga idealização do casamento, e não só do casamento, como veremos ver mais à frente.

A idealização é transversal às gerações, povos e culturas.


Em uma entrevista recente, do jornalista Fernando Beteti, Claudia Bernhard P. refere o seguinte: "(...) na Psicanálise Integral, Keppe chama isso de idealização projetiva: a pessoa projeta no outro, o que ele tem de melhor dentro dele, os ideais dele, as qualidades que ele não incorporou, não conscientizou, não cuida, não se responsabiliza por isso, então projeta no outro a razão da sua salvação, no outro ser humano (não de Deus, do ser humano). Vai ser assim com um "deus", um deus ideal, um ser humano ideal que vai salvar.

Sabe que um dos motivos mais frequentes de divórcios, é esse? A pessoa casa-se "idealizando". Não se casa com o outro, como o outro é. Casa com o que imagina, com o que projetou no outro de ideal. Então, imagina que o outro vai ser o deus da própria vida dele, que vai fazer a felicidade.

Quando começa a conviver e vê que não é assim, que ele se enganou, ele culpa o outro -

"Mas como assim?! Você não está a fazer-me feliz!" - Mas o outro não é aquilo que eu imaginei, que eu projetei. Então isso chama-se idealização projetiva.

E o povo coloca nos políticos, na pessoas de poder, um ideal muito bonito que tem no interior de cada ser humano e a pessoa não assume aquilo, para usar aquilo para a própria vida. Para ser responsável, ele, para fazer a vida dele ser bonita, boa. Então coloca para o outro - o outro vai fazer. (...) Aí ele exime-se de responsabilidade. Ele cruza os braços - Esse "deuzinho" novo, o novo "deus" vai fazer tudo e eu não tenho que assumir nada" 3


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Ali, nas fotografias desta série, está aquela mulher, com panos tirados do seu baú. Panos que lhe contam uma história, que para ela contêm os seus sonhos ou os devaneios, contêm o seu próprio sonho ou delírio, neste caso, do casamento. Fantasia 1 . Mas podia ser outro tipo de devaneio. Serve apenas como exemplo.


Alheia ao que se passa à volta dela, embrenhada nos seus panos, nos seus delírios, nem se dá conta da vida a acontecer em torno dela própria - vejam-se as pessoas que passam por ela, para cá e para lá, naquele momento. Dá a sensação que ela está em outro "mundo", que não é o mesmo em que as outras pessoas, ao redor estão. Por outras palavras, "a vida passa-lhe ao lado" - é a alienação.

Ora alienada, nada realiza, nada faz, nada produz, deixa de viver. É o nada.

Consequentemente infeliz.

"A terceira fase da humanidade será a da realização, praticamente a do trabalho; temos de admitir que até agora não produzimos o suficiente para conseguir o bem-estar e alcançar a finalidade humana (...) a ação é mais importante que o pensamento."4


ATO II, Cena 1 questiona o nosso modus vivendi individual e social, atual. Questiona também, o estado psicossocial, doente, para o qual caminhamos.



Lisboa, 29/01/2025


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1 - Fantasia - Na Trilogia é sempre usada para expressar o uso patológico da imaginação; o mesmo que ilusão ou devaneio. Uma forma de alienação da realidade na qual o indivíduo "realiza" o que é impossível. In N. R. KEPPE, A Libertação pelo Conhecimento - A Idade da Razão, Proton Editora, 1991, pág. 314


2 - Imaginação - O ato de formar imagens mentais de algo não presente; a criação de novas ideias através da combinação de experiências anteriores. Saudável só quando usada no sentido realizar boas ações futuras; patológica quando usada para alimentar ideias de grandeza ou má intenção. In N. R. KEPPE, A Libertação pelo Conhecimento - A Idade da Razão, Proton Editora, 1991, pág. 315


3 - Entrevista de Fernando Beteti, com Claudia Bernhard Pacheco: https://www.youtube.com/live/PRD0aQHQ6Po?si=HJX1TsykNdD8zeZ_ - minuto 47:16 - Stream em direto de 23/10/2024.


4 - N. R. KEPPE, Sociopatologia - Estudo sobre a Patologia Social, Proton Editora, 1991, pág. 288


Trabalho completo aqui:







 
 
 

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